Elaboração

Ideias organizadoras em mapas mentais

Organize o pensamento e melhore a qualidade de seus mapas mentais

A questão de lidar com o excesso de informação se torna cada vez mais importante. Uma das opções é organizar as informações, e mapas mentais são uma ótima ferramenta para isso. Este artigo introduz dois conceitos-chave para organizar informação e como mapas mentais podem ficar melhores com eles. Ignorar esses conceitos pode fazer com que mapas mentais produzam efeitos contrários aos desejados.

No final está disponível um mapa mental sumarizando as principais ideias (na página e para download).

O problema

Observe o mapa mental abaixo, sobre ar e água. Eu vou trabalhar com uma versão traduzida, a seguir.

https://www.mindmapping.com/

Quando a gente lê um mapa mental novo para nós, tipicamente lemos o tópico central, que fornece o contexto para os demais, e depois vamos lendo outros tópicos. Quando li o tópico Composição, meu primeiro entendimento foi que se referia à composição da água e do ar, o contexto. Mas senti a chamada dissonância cognitiva, ou confusão: o tópico não se alinhava com o título, um não estava consistente com o outro.

Levei algum tempo para identificar que havia uma questão de qualidade no mapa mental. O título é Ar e água, há um tópico principal para água mas não para ar.

O tópico Água tem dois subtópicos e fica claro que Impurezas e Purificação se referem a água, mas e Composição e Atmosfera? Assumindo que se referem a ar e inserindo um tópico principal para este, temos:

Para organizar coisas tipicamente temos uma estrutura e elementos inseridos ou encaixados na estrutura. Por exemplo, seu armário tem uma estrutura de compartimentos e você coloca o que tem nos compartimentos: roupas sociais, de esportivas, de trabalho e íntimas, sapatos, meias, acessórios.

www.marinanaves.com.br

Quando um compartimento é compartilhado, você define compartimentos virtuais ou setores: setor de calças, setor de vestidos, setor de camisas e assim por diante.

O princípio maior de qualidade de uma organização é “um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar”. O mapa mental analisando não tem um lugar para cada coisa e portanto tem coisas fora do seu lugar. O resultado é confusão no entendimento de quem lê. Ou tentativa de entendimento.

Princípio nº. 1 de organização: um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar.

A propósito, você pode notar que o armário da foto acima tem algumas violações desse princípio com relação a sapatos.

O mapa mental-exemplo tem outras questões de qualidade de organização; mencionei apenas essa para introduzir um problema importante que ocorre com estruturas hierárquicas em geral e mapas mentais em particular. Resolver essas questões não é óbvio, em particular porque, até onde sei, não há muita instrução sobre isso.

O propósito aqui é exatamente fornecer essa instrução, na forma de distinções que vão possibilitar a você enxergar as anomalias de organização e corrigi-las, prevenindo assim confusões nos leitores de seus mapas mentais.

Você vai ver também como a organização é fundamental para aumentar a potência do pensamento, no sentido de conseguir processar mais informações de uma forma integrada. Vamos começar então com um imenso problema moderno: os excessos de informação com que temos que lidar.

Os excessos de informação

Frequentemente você se depara com uma grande quantidade de coisas de algum tipo. Por exemplo:

- Você talvez tenha muitas roupas.

- No disco do seu computador, há centenas de milhares de arquivos, dos quais talvez milhares sejam seus.

- No seu WhatsApp e/ou programa de correio, milhares de mensagens, podendo haver outros milhares se você tem uma conta de correio no trabalho.

(belicosa.com.br)

- No supermercado, milhares de itens, dos quais você eventualmente compra dezenas.

- Em um resultado de pesquisa, por vezes milhares e até milhões de páginas.

Além disso, ao executar certas atividades, você também pode estar exposto e ter que lidar com grande quantidade de ideias:

- Ao assistir a uma aula, o professor pode introduzir muitos novos conceitos.

- Ao elaborar um TCC, você terá dezenas de referências, sejam sites, sejam obras, que quando lidos produzem centenas ou milhares de ideias com que você tem que trabalhar para atingir seu objetivo.

- Se você exerce alguma liderança, pode estar às voltas com uma multiplicidade de objetivos, pessoas, recursos, atividades e outros elementos, que deve coordenar para as coisas funcionem minimamente bem.

Limites

Se tivéssemos memória absoluta, muito bem: faríamos o levantamento das coisas e pensaríamos o que fosse necessário sem precisar de mais nada. Mas isso não é normal ou esperável; o fato é que temos limites para o que conseguimos nos lembrar e pensar em um determinado momento. Podemos nos lembrar facilmente de três itens que temos que comprar, mas não de 100.

Fato óbvio: nossa memória tem limites!

Esses limites geram o risco de esquecimento, mais precisamente da não lembrança: algo é importante e está em nossa memória, mas não nos lembramos desse algo no momento em que seria adequado ou oportuno.

Uma coisa é saber, outra é lembrar na oportunidade.

Além disso, a maioria do nosso processamento de informações é subconsciente; tipicamente, aprendemos para usar depois. Quando estamos aprendendo, temos que processar novas informações mais conscientemente, e o limite para isso é mais estrito.

Quando esse limite é ultrapassado, entramos na chamada sobrecarga, e a partir daí é mais difícil processar qualquer novidade. Nosso ensino, até onde sei, não trabalha muito esse aspecto; imagino que você já tenha experiências de sobrecarga ao assistir aulas.

Opções

Temos algumas opções para lidar com o excesso de informação. Uma é filtrar informações por relevância: de tudo que recebemos, apenas uma parte é relevante para o que estamos fazendo e deve ser considerada.

Outra opção é a priorização: dentre o que é relevante, avaliamos que algumas informações são mais importantes que outras e as consideramos primeiro.

Uma terceira opção é a organização: definimos blocos de informação para que possamos tratá-los em separado. Este é o escopo deste artigo.

Ideias organizadoras

No caso de coisas concretas, como roupas, o que fazemos é agrupar os objetos segundo certos critérios e armazená-los de acordo. Por exemplo:

  • roupas sociais
  • roupas esportivas
  • roupas íntimas
  • roupas de trabalho
  • calçados (do dia a dia, de festa...)

Isso é o que é comumente chamado de organizar as coisas. Além de roupas, você já organiza outras coisas:

  • arquivos no computador
  • mensagens (favoritar uma mensagem é um ato de organização)

Para organizar coisas, usamos ideias como “roupas sociais”, “Ciências Biológicas”, “Músicas”, “Vídeos”. Um livro terá partes, capítulos e seções como elementos de organização, cada qual com seu nome. Um jornal terá cadernos e seções, também com seus nomes.

Cada uma dessas ideias que representa o conjunto se chama de ideia organizadora. Quando você se refere a “minhas roupas”, “minhas camisas”, minhas mensagens”, está usando uma ideia organizadora, está tratando coisas concretas como um todo.

Ideias organizadoras têm assim estrutura de conjunto: um contêiner com um conteúdo, que são os elementos (figura). O conjunto tem um nome, que define um critério para inserção adequada de elementos. Por exemplo, um planeta pode ser inserido propriamente nos conjuntos “Planetas” e “Objetos cósmicos”, mas não cabem nos conjuntos “Plantas” ou “Minhas coisas”. O nome se constitui em uma síntese das características que os elementos têm em comum.

Ideias organizadoras são conjuntos: uma ideia agrupa outras ideias.

Não existem mas são úteis

Ideias organizadoras são abstratas, isto é, não existem na realidade física, não se pode vê-las, senti-las, ouvi-las nem pegá-las. No entanto, há uma boa analogia com coisas dessa realidade.

No cotidiano usamos certos objetos para agrupar outros, como um clipe, uma caixa, uma sacola, uma embalagem. Esses objetos organizadores são análogos às ideias organizadoras; a diferença é que ideias organizadoras existem apenas na mente. Com base nessa analogia, você pode pensar em ideias organizadoras como ideias-clipe ou ideias-caixa.

Ideias organizadoras e a memória

Uma ideia organizadora tem um efeito interessante no uso da nossa memória. Em geral, palavras e outros símbolos funcionam como pistas de acesso; por exemplo, se eu disser “Sua casa”, o efeito imediato é você se lembrar de onde você mora; isto é parte do significado do termo para você.

A propósito, o "não" não faz diferença aqui. Por exemplo, "não pense em sua casa" resulta em você pensar nela do mesmo jeito, porque a presença da pista é o fator determinante. Nesse sentido, tampouco comandos como "pense" ou "imagine" são necessários: "sua casa" já é o suficiente!

Uma ideia organizadora é uma pista que potencialmente atrai várias outras ideias; por exemplo, para entender “As músicas no seu computador”, você pensa no seu computador, no local ou locais onde guarda arquivos de músicas e então nos arquivos, podendo até “executar” mentalmente alguma delas.

Uma ideia organizadora direciona nossa memória.

Se forem muitas ideias organizadas, claro, nem todas virão. Teste esse efeito observando o que vem à sua mente para entender o termo “Meus pratos preferidos”. E com “Pessoas decisivas em minha história”?

Além disso, podemos pensar com blocos de ideias e mesmo tomar decisões, como por exemplo abrir uma loja de "autopeças" ou "roupas íntimas".

Podemos pensar e tomar decisões usando uma ideia organizadora.

Esse mecanismo de acesso à memória pode recuperar informações memorizadas, mas também tem uma dinâmica: em uma oportunidade vêm certas ideias, em uma próxima podem vir outras. Se você continuar buscando informações, também pode encontrar mais.

Classificações

Ideias organizadoras frequentemente ocorrem em grupos. Por exemplo, organizar suas roupas requer várias ideias organizadoras, como “sociais”, “esportivas”, “de trabalho”, “íntimas”. O mesmo se aplica a seus arquivos, e-mails, livros e louça.

Um conjunto de ideias organizadoras relacionadas é chamado de classificação. A ciência elabora classificações para lidar com grandes quantidades, como a classificação dos seres vivos. As seções de um site constituem uma classificação do seu conteúdo. Você tem classificações nos seus armários, suas estantes, sua mesa, seu computador. A tabela periódica dos elementos é um bom exemplo de classificação:

Múltiplos níveis

As classificações podem ter múltiplos níveis. Um armário de roupas masculinas, por exemplo, pode ter na classe “Roupas sociais” as subclasses “Camisas”, “Calças” e “Ternos”.

A classificação dos seres vivos tem inúmeros níveis. A matemática tem por exemplo a álgebra e a geometria; esta tem a geometria analítica, a plana e a espacial.

A analogia com objetos vale também para classificação; uma estante, por exemplo, além de compartimentos, pode ter um deste fechado, com gavetas e outros compartimentos. Você talvez tenha uma mesa com gavetas, e cada gaveta tem áreas que constituem uma classificação. Ok, algumas gavetas só têm a classe “Vários”...

Sendo grupos ou conjuntos de elementos, classificações também têm uma estrutura. Esta é geralmente hierárquica, como a classificação dos seres vivos e as pastas de um disco rígido, mas há outras estruturas, como a da tabela periódica dos elementos.

Uma estrutura hierárquica tem o desejável aspecto de só ter ligações “para baixo”, isto é, não tem ciclos nem ligações sistêmicas que aumentam a complexidade da estrutura e assim tornam mais difícil pensar sobre ela.

Classificações e a memória

Vimos acima que ideias organizadoras funcionam como pistas para acesso à memória. Sendo classificações conjuntos de ideias organizadoras, quando usarmos uma, a memória será acessada pelo conjunto, e vamos usar a estrutura de ideias como guia para localizar informação.

Por exemplo, suponha que você quer ouvir uma certa música, que está em um arquivo e você não tem favorito ou lista que a inclua. Você provavelmente vai partir da pasta Meus documentos, pensar na pasta Minhas músicas ou onde quer que estejam e então procurar o arquivo pelo início do nome. Se houver subpastas com o nome de cada músico ou banda – um nível adicional na classificação – você usa o nome para filtrar mais a busca. Claro, se souber o nome.

Anomalias de organização

Há várias questões importantes ligadas à elaboração de classificações. Primeiro, um mesmo conjunto de elementos pode ser classificado de várias maneiras; qual é a melhor?

Além disso, uma classificação pode ter maior ou menor qualidade. Por exemplo:

  • a classificação pode não ter lugar para todos os elementos
  • um elemento pode ser eventualmente classificado em mais de um grupo.

Os problemas em classificações constituem anomalias de organização, que resultam em incertezas e confusão na mente do leitor. Por exemplo, uma roupa branca pode ser classificada como social ou de trabalho: na hora de buscá-la, onde está? Um site que vi tinha duas seções: Ecologia e Meio ambiente; parece haver uma interseção de ideias, e os leitores podem ter dificuldades tanto na hora de procurar algo quanto de lembrar onde estava algo que leu.

Ideias organizadoras e mapas mentais

Mapas mentais representam informações e conhecimento, e assim estão sujeitos a ficarem com muitos tópicos. Convém então organizá-los, seja agrupando tópicos com uma ideia organizadora, seja elaborando uma classificação para o todo do conteúdo.

Muitas classificações são hierárquicas; como mapas mentais também têm estrutura hierárquica, eles mentais constituem um recurso natural para representar e trabalhar classificações com essa estrutura em árvore.

Um exemplo. A figura abaixo mostra um trecho de um mapa mental de possibilidades de prazer sensorial. Note que o título representa uma ideia organizadora, assim como os tópicos do nível 1 e os subtópicos do tópico “Gustativos”.

Esse mapa mental de fato é uma parte de outro, que inclui os prazeres que podemos sentir, que, além dos gustativos, podem incluir emocionais, como alegria, e subjetivos, como vencer e completar uma tarefa (mapa mental abaixo).

Mapas mentais permitem para o mapeador pensar e trabalhar produtivamente as classificações hierárquicas e para o leitor a recuperação rápida, estruturada e integrada dos significados associados ao mapa mental.

Mapas mentais são estruturalmente perfeitos para trabalhar estruturas hierárquicas.

De passagem, comprove um efeito das ideias organizadoras mencionado anteriormente. Olhe para um tópico – por exemplo, “Olfativo” – e note como ele lhe estimula a acessar sua memória.

Desta forma, trabalhar a organização de ideias passa a ser uma atividade importante do processo de elaboração de mapas mentais. Em algum momento poderemos ter que inserir ideias organizadoras ou revisá-las se já existirem.

Além disso, todas as questões de qualidade de ideias organizadoras podem ocorrer em mapas mentais: uma classificação de baixa qualidade vai confundir o leitor e dificultar a lembrança de seu conteúdo, a compreensão e o uso do mapa mental.

De fato, os riscos de não considerar a organização de ideias incluem até seguir na direção contrária de uma das finalidades dos mapas mentais, que é sumarizar e estruturar um conteúdo de forma a facilitar e dar produtividade à assimilação e ao uso desse conteúdo.

Aplicação

Vamos fazer uma leitura crítica do mapa mental do início (reproduzido abaixo) à luz e sob a ótica da organização.

Uma anomalia já mencionada é a falta de todo um ramo para “Ar”, com um efeito adicional de deslocar os que seriam seus itens para cima e caracterizando outra anomalia de itens em nível errado.

Agora considere a figura onde está escrito “CO2”: a qual tópico ela se refere? Ela deveria estar de fato no tópico Carbon dioxide. Esse é um exemplo de anomalias de organização de ilustração.

Questionamentos - Há casos em que não detectamos uma anomalia, apenas questionamos. Por exemplo, porque o título/contexto do mapa mental é “Ar e Água”? Não há nada que os ligue que justifique essa organização. Evidência disso é que esse mapa mental poderia ser particionado em dois, um para água e outro para ar, sem perda de informação.

Encontrar respostas para questionamentos sobre um mapa mental depende muitas vezes de sabermos qual é o seu público-alvo e para que será usado.

Usando modelos de estrutura

Definir uma classificação de qualidade a partir do zero pode consumir muito tempo. Assim, algo que pode acelerar sobremaneira a elaboração de um mapa mental é encontrar uma classificação pronta ou pelo menos próxima da desejada.

Por exemplo, o mapa mental abaixo é uma classificação possível das informações relevantes para um líder. Considere como seria chegar a essa classificação – ou qualquer outra – sem nenhum ponto de partida. Se você for um líder experiente, talvez chegue mais rapidamente, mas normalmente quem precisa se estruturar são os iniciantes, que via de regra não têm conteúdo suficiente a ser classificado – no momento em que mais precisam.

Assim, tudo que mais podemos querer como mapeadores é encontrar uma boa classificação para usar nos níveis organizadores de um mapa mental.

Possibilidade: partir de uma classificação existente.

Foi com base nessa ideia que escrevi o e-book Modelos e Métodos para Usar Mapas Mentais: propiciar modelos de estrutura de ideias organizadoras para que um mapeador tenha um ponto de partida bem mais próximo do destino. Nessa página você pode baixar uma amostra grátis com boa parte do conteúdo.

E considerando que ideias organizadoras não só blocam ideias como também as atraem, um modelo de estrutura facilita também a recuperação de conteúdo, estimulando seu pensamento na direção de recuperar informações do tipo das ideias organizadoras da estrutura.

Verifique isso lendo as ideias organizadoras abaixo e observando o que elas evocam em você:

  • Meus prazeres preferidos
  • Minhas melhores férias
  • Minhas experiências de fazer limões com limonadas

Sumário

A seguir um mapa mental sumarizando o conteúdo deste artigo.

Clique aqui para baixar o mapa mental em PDF (158 kB).

Clique aqui para baixar o original do mapa mental (formato easyx, 4 kB)